The Batman

Direção

Matt Reeves

Elenco

Robert Pattinson , Zoë Kravitz , Paul Dano , Colin Farrell , Jeffrey Wright , Peter Sarsgaard , Barry Keoghan , Rupert Penry-Jones , Alex Ferns , Con O’Neill , Jayme Lawson , Andy Serkis , John Turturro

Roteiro

Peter Craig

Fotografia

Greig Fraser

The Batman

“The Batman” é um filme muito interessante por, pela primeira vez no cinema, mostrar as facetas de detetive do herói, que sempre foram praticamente ignoradas em seus outros filmes, mas é uma das principais características do personagem nos quadrinhos, onde é conhecido como “maior detetive do mundo”.

Com direção de Matt Reeves (“Cloverfield”) e roteiro de Peter Craig (“Imperdoável”), acompanhamos Batman (Robert Pattinson) ainda nos seus primeiros anos de carreira, trabalhando lado a lado do ainda tenente Gordon (Jeffrey Wright). O herói ainda é visto por muitos como um esquisito com roupa de morcego e, só pela confiança quase cega de seu amigo na polícia, consegue ter alguma abertura para investigar “oficialmente” os casos.

Com essa premissa, o filme começa com o assassinato de uma figura importante de Gotham, cometido por Charada (Paul Dano), o que leva ao convite de Gordon para Batman ajudá-lo nas investigações. A partir disso, ocorre o encontro de Batman com outros personagens famosos, como Mulher Gato (Zoë Kravitz), Carmine Falcone (John Turturro) e Pinguim (irreconhecível no papel, Colin Farrell).

Somos, então, apresentados a um Batman ainda em início de carreira, tomado por uma sede de vingança quase que incontrolável, cometendo erros e hesitando em ter atitudes que normalmente veríamos ocorrer com naturalidade por um Batman de outros filmes. Em uma cena específica vemos a hesitação do personagem em usar seus gadgets para pular de um prédio, o que acaba resultando em uma aterrissagem terrível.

É interessante notar, inclusive, como os gadgets são mostrados de forma bastante rudimentar, contrastando muito com o que já se conhece do personagem. Apesar de tecnológico, tudo parece ser feito um pouco na gambiarra, desde o batmóvel até o aparelho que o herói usa para acompanhar as câmeras.

Essa falta de primor tecnológico também é percebida no trabalho do design de produção ao criar a batcaverna. Em outros filmes vemos uma batcaverna ultra tecnológica, onde há plataformas que se movem, computadores de alta tecnologia e luzes. Aqui, porém, a batcaverna aparece mais como área qualquer que foi improvisada pelo personagem, refletindo, assim, uma característica marcante do Batman de Pattinson: a total falta de importância com qualquer coisa que ele não considere primordial para seus planos de vingança.

Outra questão interessante a se notar em relação ao design de produção é a retratação de Gotham, que aparenta ser uma mistura de Gotham gótico e escura dos filmes de Tim Burton com a metrópole dos filmes de Christopher Nolan. Quase sempre retratada à noite, Gotham é suja, cheia de ruelas e becos. Uma cidade triste, com pouca esperança, sempre chuvosa, refletindo quase um espelho do personagem principal.

A direção de fotografia acompanha o design de produção através do uso de tons escuros, luzes duras e lentes com pouca profundidade de campo, ressaltando ainda mais essa natureza claustrofóbica de Gotham.

Quanto a Bruce Wayne, Pattinson o interpreta como um homem que não vê a vida além da sua missão como herói mascarado. Recluso, depressivo e pálido, Bruce quase não aparece em público e mal vê a luz do dia. Até mesmo Alfred (Andy Serkis) é vítima do distanciamento emocional do personagem, sendo muitas vezes tratado com frieza e tendo sua posição questionada, mesmo sendo a única figura paterna que Bruce tem depois da morte de seus pais.

Outro papel de destaque é o de Zoë Kravitz, que se apresenta muito mais interessante que a Mulher Gato de Anne Hathaway, reforçando os reais motivos pelos quais a atriz foi recusada para o papel no filme do Nolan. Zoë consegue transmitir para a personagem tanto a sensualidade exigida para sua interpretação, como as proezas físicas de alguém, que como ela mesma gosta de frisar, “sabe cuidar de si mesma”.

Já Colin Ferrel aparece irreconhecível com um trabalho incrível de maquiagem. Cria um Pinguim que ainda também não está no seu auge como grande criminoso de Gotham, servindo quase como um capanga de luxo de Falcone. No entanto, o personagem de Colin rende algumas boas cenas e proporciona até certo alívio cômico a um filme de atmosfera tão pesada.

Falcone, por sua vez, é apresentado como um dos principais antagonistas do filme. Frio e calculista, tem Gotham toda em suas mãos. Contudo, mesmo com as três horas de duração do filme, o personagem de John Turturro não é muito bem desenvolvido, deixando um pouco a desejar.

Chegamos, então, ao grande vilão do filme: Charada. O personagem de Paul Dano se apresenta como uma mistura do vilão de jogos mortais com o serial killer de “Seven”, num misto de super inteligência e completa insanidade. Se em um momento o personagem se prevalece de um tom sombrio e assustador, logo em seguida manifesta ataques de raiva e gargalhadas que chegam a causar certo constrangimento ao espectador. É uma pena que, devido ao pouco tempo de tela, Paul Dano não tenha tido o espaço merecido e necessário para mostrar todas as facetas do seu personagem.

Com certeza o filme tem suas problemáticas, começando pelas quase três horas de duração um tanto desnecessárias e o excesso de diálogos expositivos. A quantidade de personagens importantes também faz com que o filme não desenvolva cada um tão bem como poderia. Fica, inclusive, a dúvida se alguns personagens foram realmente necessários para o desenvolvimento da trama, a exemplo do Pinguim. Outra questão é a narração que, embora tenha sido interessante no começo, é esquecida durante quase todo o filme e acaba se perdendo no final. Talvez, um grande erro tenha sido mostrar a maior parte das cenas de ação no trailer do filme, gerando a sensação para aqueles que acompanharam o material de divulgação de que já se sabia o que iria acontecer em certas cenas.

Com estes apontamentos, apresenta-se aqui um Batman jovem, com as principais facetas clássicas do personagem que nunca foram mostradas em outros filmes e que me desperta, pela primeira vez, certa curiosidade para acompanhar a evolução interna do personagem, tanto como Batman, quanto como Bruce Wayne. Fica ainda a curiosidade para assistir à evolução dos gadgets usados pelo personagem para combater o crime.

“The Batman” é um belo recomeço de franquia para o herói, que não se apega à história de origem.